8. O Coral da Cultura grava seu disco

por Nestor de Hollanda Cavalcanti

    Pouco tempo depois, em 10 de agosto de 1981, o coral se apresentou na Sala Sidney Miller, durante a "Série Música Contemporânea" dirigida pelo Aylton Escobar e promovida pelo Instituto Nacional de Música da FUNARTE, .
    Meu caro leitor: este é, sem dúvida, um país sem memória. As coisas acontecem por aqui e depois são esquecidas, inapelavelmente. Não há registros, não há documentação suficiente para todas as áreas da atividade humana no Brasil. Na música não é diferente. Então, preocupado com a falta de um registro sonoro do trabalho do grupo, tendo discutido este problema por diversas vezes com o Marcos e com sua concordância, solicitei ao Frank Justo Acker que gravasse o espetáculo na Funarte. Achava que o trabalho do grupo tinha de ficar, pelo menos, registrado em fita. Caso ficasse bom, faríamos um disco ao vivo.
    A Sala Sidney Miller ficou abarrotada. Tinha gente em pé e muita gente do lado de fora, ligada de uma forma ou de outra ao coral, incluindo pais, namorados, empresária, o produtor Alexandre Agra, tietes e agregados.
    O recital foi ótimo. Como sempre, fiz o roteiro musical e "palpitei" um bocado no espetáculo. O coro começava com Alguém cantando, vindo de trás da platéia e chegando no palco pelo meio dos espectadores. Em El Ahuasca, Marco Antonio fazia o solo, enquanto o coro, sentado e de costas para o público, fazia o acompanhamento, imitando um instrumento popular andino (Durante o ensaio, o Marcos me pediu que solucionasse um problema técnico: o coro estava cobrindo a voz do solista. Então, sugeri que o coral se sentasse, de costas, para diminuir a emissão do som, enquanto que o solista ficaria em pé, de frente para o coral. Tudo isso num canto do palco, para facilitar a emissão do som. Feito isso, o problema acabou.).
    Foram usados, na apresentação, piano e percussão. Teve ainda um momento alucinado de criação coletiva que terminou com Cobras e Lagartos. Tudo foi registrado em fita pelo bom e velho - e saudoso - Frank e depois transferido para o disco "Cobra Coral ao(s) vivo(s)", montado no estúdio da Sonoviso, em outubro de 1981, com o grande Toninho Barbosa pilotando as máquinas, sob a minha direção e com a assistência dos coralistas Marisa Weiss, soprano, e Eduardo Villaça, tenor. Ainda na ficha técnica, Suely Mesquita, hoje cantora e compositora e na época grande amiga do coral, fez a foto da capa durante a apresentação no Parque Lage. Sergio Canetti, que era responsável pela técnica vocal do coral, e Luiza Interlenghi fizeram a arte final. Suzana Abranches, atriz, deu o título ao disco. Os seguintes cantores participaram da gravação: Iara Sydenstricker, Monika Nuffer, Claudia Cardoso, Marisa Weiss, Virgínia Palmier (Como já escrevi, é quem faz: - one, two, three, four..., em Cobras e Lagartos), Valeria Bustamante (soprano agudíssima, parecia um flautim...), Cristina Cardoso (irmã da Claudia e da Márcia, contralto) e Lucia Gryner (sopranos); Paula Mófreita (hoje, Paula Novaes, atriz), Denise "Margô" Teixeira (Uma voz bonita, que fez um solo em Lua, lua, lua. Anos depois, trabalhando como produtora cultural, foi bárbaramente assassinada em Santa Teresa), Janine Carballo, Márcia Cardoso, Márcia Monteiro, Lucianne Antunes, Lísia Espínola, Tânia Amorim (contralto verdadeira. De descer, "numa boa", como diria o Marcos, a um mi bemol) e Maria Antônia "Tonica" Gnattali (flautista, casada na época com o Roberto Gnattali) (contraltos); Marco Antonio D¸Almeida (hoje, regente coral: Marco D¸Antonio), Eduardo Passos, Eduardo Lopes (Edu da flauta, regente e arranjador, que juntamente com outros coralistas, criou depois o "Coro Come". Edu, se não me engano, começou a reger sob a orientação do Marcos que o pôs à frente do Coral da Cultura na apresentação em Teresópolis. E ele, embora um pouco nervoso, não deixou a peteca cair.), Eduardo Villaça (Dudu), Nelson Duriez, Ricardo Góes (tenor superagudo, aproveitado por mim no arranjo de Yes it is) e Pedro Luís de Oliveira (Hoje, compositor, líder do grupo "Pedro Luís e a Parede". Pedrinho, irmã da "Margot", também tocou clarineta em mi bemol) (tenores); Luiz Paulo "Piu" Leal, Hélio Rocha, Felipe Abreu (hoje, afamado mestre de canto), José Carlos Barros (Zequinha, também tocou trompete), Guto de Macedo (durante um tempo, dividiu a direção cênica com a Paula), Henrique Wesley, e José Alberto Salgado (Zé Al, também tocou sax alto). Eduardo "Duduca" Lopes fez uma participação especial na percussão. Marcos Leite na regência, no piano e na maioria dos arranjos. Eu e Marcos produzimos e Alcy Leal Leite, mãe do Marcos, deu uma grana para a produção. Fiz o texto de contracapa, registrando tudo o que foi possível. Para terminar, as faixas são as seguintes:

    1. Três cantos nativos dos índios Kraó (coligidos por Marluí Miranda, arranjo do Marcos);
    2. El Ahuasca (folclore peruano, arranjo do Marcos);
    3. She’s leaving home (Lennon & McCartney, arranjo do Marcos);
    4. Alguém cantando (Caetano Veloso, arranjo do Marcos);
    5. Carnavalito Humahuaqueño (folclore argentino, arranjo de Moacyr del Picchia);
    6. Lua, lua, lua (Caetano Veloso, arranjo do Marcos);
    7. Beba Coca-Cola (Gilberto Mendes e Décio Pignatari);
    8. Maria Magdalena (moteto de Andrea Gabrielli);
    9. a. Espaço livre ou... NUMBER ONE CRAZY PEOPLE (Cobra Coral, criação coletiva);
      b. Cobras e Lagartos (Nestor de Hollanda Cavalcanti e Hamilton Vaz Pereira);
    10. Patuscada de Gandhi (Afoxé filhos de Gandhi, arranjo do Marcos).

      Rio, 28 de novembro de 2005

      (in: Às voltas com o canto coral. Texto inédito, Rio de Janeiro, 2003-2005)

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