2. Cobras e Lagartos faz sua estréia
por Nestor de Hollanda Cavalcanti
Duas semanas depois, o Marcos me telefonou:
- Olha, vamos fazer a peça no dia tal, hora tal. Será aqui na Cultura Inglesa (Sede do curso, em Copacabana, no Rio de Janeiro), na apresentação do coro para o final do ano letivo.
Não acreditei:
- Mas, já?! - repliquei espantado. A peça é muito difícil!
- Vá lá e você vai ver.
Fui assistir. Não fiquei na platéia, mas escondido, como de praxe (quem me conhece sabe que isto é mais do que uma praxe...), atrás de uma porta. Não queria participar do que podia ocorrer. Mas, a verdade é que não podia acreditar que em tão pouco tempo o coral pudesse apresentar a peça. Mas apresentou. E eu não podia também acreditar no que estava ouvindo. O coral estava cantando - cantando de verdade - a peça que o degas aqui escrevera. Fizeram apenas uma modificação. Subiram meio tom do tom original. No mais, tudo como estava escrito, sem tirar nem por. O sucesso da apresentação, acreditem, foi enorme. A parceria tinha sido perfeita; parceria de compositor mais peça mais regente mais coral. Uma festa! No final do espetáculo fui falar com o Marcos, cumprimentando-o admirado. Sempre meio tímido, como é do meu temperamento, conheci alguns coralistas e despedi-me feliz como um pinto no lixo, como diria o Jamelão.
Semanas depois, o Marcos volta a me telefonar:
- Vamos participar do festival da Globo. O MPB-Shell 81. Foi idéia da Paula.
Meio espantado, respondi:
- Ótimo. Dou a maior força.
- Com a sua música...
- O quê! - exclamei, exclamando. É uma peça para coro à capela, não tem nada a ver e não vai ter a menor chance - tentei argumentar de todo jeito, usando a melhor lógica possível.
Mas ele riu e, pacientemente, me apresentou um certo argumento...
- Tudo bem. Você é quem sabe. Mas não vou fazer nada a respeito. Ainda acho que a peça não tem a menor chance.
Ele fez tudo. Entrou em estúdio com o coral e gravou a peça. Fui somente assistir à gravação. Depois, fui com ele inscrever a música no festival, porque era necessária para a inscrição, é claro, a presença de, pelo menos, um dos autores.
Depois, assim como que meio ressabiado, fiquei aguardando para ver no que dava.
Rio, 25 de novembro de 2005
(in: Às voltas com o canto coral. Texto inédito, Rio de Janeiro, 2003-2005)
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