12. Coral da Cultura Inglesa se torna Cobra Coral
por Nestor de Hollanda Cavalcanti
Depois do festival, aconteceu uma reunião entre os coralistas para a mudança de nome do grupo. Houve uma votação e foram sugeridos diversos nomes; dentre eles, que eu me lembre, "Coral da Cultura" (sem o "inglesa"), "Cobras e Lagartos" (que foi vetado por mim) e "Cobra Coral" (proposta do Marcos, numa idéia da Paula, que acabou vencendo).
O diretor da Cultura Inglesa não concordou com a mudança de nome do grupo que, conseqüentemente, saiu da Cultura Inglesa, passando a ensaiar numa escola na Urca, graças a boa vontade de outro Marcos, noivo da Claudia Cardoso, soprano. Então, surgiram as primeiras idéias para se formar um coral profissional privado, não ligado a nenhuma instituição, onde todos pudessem viver do trabalho. Seja como cantor, regente ou, talvez, diretor musical. Elaborávamos estratégias, imaginando que o grupo, uma vez divulgado pela televisão, conseguiria "decolar", alçar vôo em busca da necessária sobrevivência.
Veio, porém, o lançamento do LP "Cobra Coral ao(s) vivo(s)os". Não me lembro de uma apresentação específica para isto, mas, de diversas reuniões alucinadas e alguns problemas "graves" levantados por alguns cantores. Graves não: gravíssimos! (Quem já participou de um coral sabe do que estou falando... ). Aborreci-me muito com tudo e abandonei o grupo, jurando a mim mesmo nunca mais participar de um coral. O Cobra Coral ainda teve um tempo de vida (lembro da sua participação no MPB Shell 82) e depois se extinguiu.
Apesar de algumas intempéries, tenho ótimas lembranças desta fase com o Coral da Cultura. Não posso me esquecer do dia - acho que foi num sábado - em que o grupo foi fazer um show no morro da Urca. O ensaio foi à tarde, terminando já à noite. A apresentação seria às 21 horas, acho eu. A noite se iniciava e a lua cheia iluminava o vão entre o morro da Urca e a Praia Vermelha. Desci no bondinho com alguns cantores e diversos passageiros. De repente, o pequeno coral a bordo entoa o Lua, lua, lua, do Caetano Veloso. Espontaneamente, sem regência, com o vigor de sempre. Nós, passageiros e privilegiados espectadores ouvintes, ficamos arrepiados com aquela viagem de bonde e de música. Foi lindo!
Não sei se algum ex-cobra-coralista ainda tem alguma gravação em vídeo do grupo em ação, "atacando". Se não houver, é uma pena. Uma grande pena. Quem assistiu, assistiu. Quem assistiu se emocionou e guarda consigo esta emoção. É impossível esquecer este grupo, fruto do trabalho e da cabeça "doente", como ele mesmo costumava dizer, de Marcos Leite.
Curiosamente, embora toda a grande atuação do coral tenha sido com o nome de Coral da Cultura Inglesa, este ficou conhecido nacionalmente e, certamente, para sempre, como Cobra Coral.
Rio, 29 de novembro de 2005
(in: Às voltas com o canto coral. Texto inédito, Rio de Janeiro, 2003-2005)
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