Nestor de Holanda (Nestor de Hollanda Cavalcanti Neto) nasceu a 1º de dezembro de 1921, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Seu pai, Nestor de Hollanda Cavalcanti Filho, era farmacêutico. Sua mãe, Maria de Lourdes Galhardo de Hollanda Cavalcanti, era médica, filha de Estevão Galhardo, calabrês, e de Joana de Queiroz Galhardo, napolitana.

O pai de Nestor de Holanda contava, apenas, 22 anos de idade, quando faleceu, deixando o filho com 2 anos de idade. Sua mãe, apesar dos 20 anos incompletos, já estava diplomada pela Escola Normal, pelo Conservatório de Música (piano e bandolim) e em pintura e datilografia, numa época em que raramente se encontrava alguém que escrevesse à máquina. Viúva tão cedo, continuou residindo com os sogros, o farmacêutico Nestor de Hollanda Cavalcanti e dona Matilde de Aragão Rabelo de Hollanda Cavalcanti, mas passou a trabalhar para criar os filhos Nestor e Nelby, esta com apenas seis meses de nascida.

Conseguiu cadeira de professora no Grupo Escolar de Vitória de Santo Antão e passou a lecionar, particularmente, inclusive pintura e música. Durante cinco anos, assim viveu. Em 1929, transferiu-se, com os filhos, para o Recife, pois conseguira trocar a cadeira de professora por um cargo na Repartição Estadual do Algodão, e que era de sua propriedade, na rua do Sossego, 235, exatamente a casa que, mais tarde inspirou Nestor de Holanda para escrever o romance Sossego, Rua da Revolução.

Em 1931, Lourdes Galhardo ingressou na Faculdade de Medicina do Recife. Em 36, obteve diploma, tendo sido a laureada de sua turma, e exerceu a medicina até morrer, 1955, no Rio de Janeiro. E é curioso registrar que foi ela a primeira mulher que tirou carteira de motorista em Pernambuco, em 1925, tendo sido forçada a impetrar mandado de segurança para isso - e, em conseqüência, a Inspetoria de Trânsito lhe concedeu carteira, mas de profissional...

A tia paterna de Nestor de Holanda foi outra mulher admirável: Martha de Holanda, casada com o poeta Teixeira de Albuquerque. Estreou nas letras, em 1930, com o Delírio do Nada, apresentado por Alberto de Oliveira, Coelho Neto, João Ribeiro, Júlio Pires, Oscar Brandão e João Barreto de Menezes. Fundou a Liga Feminista Brasileira, foi revolucionária em 30 e a primeira mulher eleitora e candidata a deputado no Brasil, isto devido, igualmente, a mandado de segurança que foi obrigada a impretar.

Nestor de Holanda fez seus estudos no Recife. Cedo, muito cedo mesmo, ingressou no jornalismo. Ainda no ginásio, dirigiu o semanário A Fama, que acabou preso e proibido por motivos políticos. Sua primeira função: aprendiz de suplente de revisor. E trabalhou na Gazeta do Recife, Jornal Pequeno, Jornal do Comércio e Diário da Manhã.

Aos 17 anos, fez parte de um grupo de jovens que se iniciavam na imprensa e nas letras. O grupo fundou a editora Geração, através da qual Nestor publicou livro de poemas, Fontes Luminosas, que considera, hoje, "uma brincadeira de criança". Faziam parte de Geração: Guerra de Holanda, Paulo Cavalcanti, Mário Souto Mayor, Sousa Leão Neto, Raul Teixeira, Aristóteles Soares, Dagoberto Pires e outros. E, ainda na mesma época, participou de concurso de peças para operários, promovido pelo Governo do Estado, mas seu trabalho foi preso e proibido. Tinha o título Mais tem Deus... A censura policial deu fim aos originais...

Contando com o estímulo de Valdemar de Oliveira, o grande realizador do teatro pernambucano, Nestor escreveu a comédia-histórica Nassau, que obteve êxito marcante, inclusive através da Rádio Clube de Pernambuco, quando transmitida por iniciativa de Luiz Maranhão. E produziu várias outras comédias.

Também na música popular, em diversas ocasiões marcou tentos no famoso carnaval pernambucano, destacando-se os frevos-canções Fala, Pierrô, com Levino Ferreira, Barafunda, com Ernani Reis, O Frevo é Assim, com Nelson Ferreira, e Não deixe a minha companhia, com João Valença, um dos Irmãos Valença, autores de Teu cabelo não nega, marcha adaptada por Lamartine Babo para o carnaval carioca.

Assim viveu Nestor de Holanda, até os 19 anos de idade, no Recife e em Olinda. Nesta cidade, conviveu com os jangadeiros da Z-4 e teve jangada na qual empreendeu longas pescarias de alto mar, o que lhe valeu a experiência aproveitada para escrever o romance Jangadeiros, traduzido em vários países, porque é, sem favor, o maior documentário sobre a tosca embarcação de pesca do Nordeste.

Em 1941, veio para o Rio de Janeiro, em busca de horizontes mais largos. Foi redator de A Cena Muda, Revista da Semana, Brasilidade, Vida, Deca, e das rádios Vera Cruz, Transmissora e Educadora. Convocado para o Exército, esteve em operações de guerra e chegou a sargento. Ganhou aí o apelido de "Sargento Iolando" (por que os recrutas confundiam seu "Holanda" com o cigarro Iolanda 500) e o apelido foi usado, durante toda sua vida, de modo jocoso, pelo próprio escritor.

Voltou à vida civil, depois da Guerra. Reiniciou, então, suas atividades intelectuais. Trabalhou em diversos jornais: Folha Carioca, Democracia, O Imparcial, A Noite, Folha do Rio, Shopping News, Diário Carioca, Última Hora e Diário de Notícias, como repórter, crítico de rádio e depois de televisão, e colunista (mantendo crônica diária), tendo sido também secretário de redação (hoje seria editor-chefe) em vários desses jornais; nas revistas: Manchete, A Noite Ilustrada, Carioca, como colaborador; nas estações de rádio: Clube Fluminense, Cruzeiro do Sul, Clube do Brasil, Globo, Nacional e Ministério da Educação e Cultura - Rádio MEC, como produtor de diversos programas e nas equipes de jornalismo; nas emissoras de televisão: Continental, Excelsior, Rio, onde foi redator e diretor de relações públicas (hoje seria diretor de marketing).

Trabalhou também em diversas agências de publicidade, sendo que na primeira, Sidney Ross, teve como companheiros Giuseppe Ghiaroni, Fernando Lobo, dentre outros, e criou "slogans" que são lembrados até hoje, como "Se a marca é Cica, bons produtos indica".

Escreveu muito para teatro, desde revistas como A Bomba da Paz, Está em Todas, TV para Crer e Terra do Samba, a comédias como Um Homem Mau e A Bruxa.

Produziu mais de uma centena de composições populares, como Quem Foi?, Seu Nome Não é Maria, Xém-ém-ém (que figurou na trilha sonora de um filme de Walt Disney), Periquito da Madame, Balance eu, Último Beijo, Frevo é Assim, Muito Agradecido, Eu Sei que Ele Chora, Meu Mundo é Você, Vou Procurar Outro Bem, e fez parcerias com Abelardo Barbosa, Amirton Valim, Ary Barroso, Braga Filho, Carvalhinho, Del Loro, Dilu Melo, Elpídio Pereira, Ernani Reis, Fernando Lobo, Geraldo Medeiros, Gomes Filho, Guio de Morares, Haroldo Lobo, Helio Guimarães, Ismael Netto, João Valença, Jorge Gonçalves, Jorge Tavares, Levino Ferreira, Lucio Alves, Luiz Bandeira, Luiz Gonzaga, Manezinho Araújo, Moacyr Silva, Moreira da Silva, Nelson Ferreira, Paulo Soledade, Valzinho, Waldemar Henrique e outros musicistas que deixaram saudades.

Foi um dos fundadores da SBACEM, era fundador da SADEMBRA (Entidades arrecadadoras de direitos autorais em música) e filiado à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - SBAT e à Associação Brasileira de Imprensa - ABI, sendo que fez parte do conselho dessas sociedades e também do Conselho de Música Popular do Museu da Imagem e do Som – MIS, dirigido, na época, por Ricardo Cravo Albin.

Graças a seu estilo leve, bem-humorado, de marcante penetração popular, Nestor de Holanda figurou entre os escritores que mais venderam no Brasil, e esteve entre os mais traduzidos. Livros seus, como Diálogo Brasil-URSS, O Mundo Vermelho, Sossego, Rua da Revolução, Jangadeiros, A Ignorância ao Alcance de Todos, Itinerário da Paisagem Carioca, Telhado de Vidro, Memórias do Café Nice e outros figuraram entre os recordistas de venda, alguns com edições sucessivas, sendo que Itinerário da Paisagem Carioca lhe rendeu o título de Cidadão Carioca, por decisão da Assembléia Legislativa do então Estado da Guanabara.

Eis, portanto, em rápidas linhas, a história desse autor. Um homem que viveu, exclusivamente, de escrever. Jamais exerceu a função que não dependesse, tão-só, de sua pena. E, quando completou, em 1967, 32 anos de atividades na imprensa, viu sair a edição comemorativa do fato, em dois volumes, numa realização da BRADIL, com a seleção de trabalhos de sua seção Telhado de Vidro, na qual se destaca o bom humor do cronista diário, o cronista que, apesar das viagens que empreendeu ao exterior, não deixa de decantar as quatro cidades nas quais mais tempo viveu: Vitória de Santo Antão, Recife, Olinda e o Rio de Janeiro.

Nestor de Holanda faleceu em 14 de novembro de 1970, na cidade do Rio de Janeiro, deixando viúva e casal de filhos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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  • Castro, Ruy: Chega de Saudade; Editora Schwarcz (1990);
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  • Gomes, Bruno Ferreira: Custódio Mesquita - prazer em conhecê-lo; Funarte (1986);
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  • Lysias Enio e Vieira, Luis Fernando: Luiz Peixoto - pelo buraco da fechadura; Vieira & Lent Casa Editorial Ltda (2002);
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  • Paiva, Salvyano Cavalcanti de: Viva o Rebolado! - vida e morte do teatro de revista brasileiro; Editora Nova Fronteira (1991);
  • Saroldi, Luiz Carlos e Moreira, Sonia Virginia: Rádio Nacional - o Brasil em sintonia; Jorge Zahar Editor Ltda. (2005);
  • Severiano, Jairo: Yes, Nós Temos Braguinha; Martins Fontes/Funarte (1987);
  • Severiano, Jairo e Mello, Zuza Homem de: A Canção no Tempo - 85 anos de músicas brasileiras - Vol. 1: 1901-1957; Editora 34 (2002);
  • Tinhorão, José Ramos: Música Popular - do gramofone ao rádio e TV; Editora Ática (1978);
  • Valença, Suetônio Soares: Tra-la-lá - Lamartine Babo; Impressora Velha Lapa (1989);



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Atualizado em 3 de Maio de 2010